Prisão de cinco
conselheiros do TCE impede análise de contas
Sessão foi suspensa e Procuradoria-Geral estuda
forma de resolver a questão
30/03/2017 06:30:34 - ATUALIZADA ÀS 30/03/2017 07:45:15
ADRIANA CRUZ E BRUNA FANTTI
Rio - O Tribunal
de Contas do Estado é responsável por julgar as contas do chefe do Poder
Executivo do Estado e das 91 prefeituras fluminenses e encaminhá-las para
aprovação no Poder Legislativo.
No entanto, a prisão
de cinco dos sete integrantes conselho impede o funcionamento do órgão. Isso
acontece em um momento crítico para as finanças do Governo, cujo relatório
deveria ser enviado para o órgão até o dia 1º de abril, a partir do qual as
contas do ano passado seriam analisadas. Ontem, a Alerj aprovou contas julgadas
pelo TCE.
O TCE julga as contas do chefe do
Poder Executivo do Estado e de 91 prefeituras fluminenses e as encaminha para
aprovação do LegislativoRafael Nascimento / Agência O Dia
A conselheira que
Marianna Montebello, que integra o órgão desde 2015 não tem como fazer a
sessão, que ontem foi suspensa por falta de quórum. Há a necessidade de pelo
menos quatro conselheiros para deliberação. O TCE informou que “a Procuradoria-Geral
do TCE estuda juridicamente mecanismos legais para o retorno das sessões
plenárias”.
Há três auditores
substitutos que poderiam completar o quórum, mas eles não podem ocupar os
cargos ao mesmo tempo. Ontem, a bancada do PSOL na Alerj propôs um Projeto de
Lei para mudar essa regra. O projeto dos deputados Flávio Serafini, Marcelo
Freixo, Eliomar Coelho e Paulo Ramos pede a alteração do artigo 76-A da Lei
Complementar 63, que impede a substituição.
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O deputado Jorge
Felippe Neto (PSD) também defendeu reformas no TCE, mas propõe uma solução mais
definitiva à questão de quem ocuparia as cadeiras vazias do tribunal. Segundo
ele, primeiramente seria necessária a destituição imediata dos conselheiros presos.
Depois, seria preciso rever a forma de nomeação para o tribunal, feita por
indicação política em votação na Alerj. “Estamos defendendo uma política de
carreira. O corpo técnico do TCE está maduro o suficiente para eleições”,
disse.
Crítica e apoio a Picciani
Crítica e apoio a Picciani
Na Alerj, uma das
maiores bancadas, o Psol — cinco deputados — pediu o afastamento de Jorge
Picciani. “Pedimos o afastamento pelo bem da Casa e para investigação”, afirmou
o líder do partido, Marcelo Freixo. Outros deputados, como Luiz Paulo (PSDB),
Luiz Martins e Cidinha Campos (ambos PDT), defendiam o “direito de defesa” de
Picciani. André Corrêa (DEM) disse que não se pode fazer pré-julgamentos. Luiz
Martins (PDT) foi além: “Ele respeita o voto dos deputados e apoiou as CPIs”.
Presos devem ficar em Bangu
Até o início da noite
de ontem, os seis presos continuavam em uma sala na Polícia Federal, aguardando
transferência para o sistema prisional estadual. Entre os presos, somente o
conselheiro Domingos Brazão não tem curso superior completo. Ele deverá ficar
no presídio Bandeira Stampa, conhecido como Bangu 9.
No local, já estão
outros presos da Lava Jato que não possuem curso superior, como Eike Batista e
o doleiro Álvaro Novis. Também em Bangu 9 estão ex-servidores públicos
condenados, como agentes que atuavam como milicianos e ex-policiais militares e
civis.
Os outros presos
deverão cumprir a prisão temporária no presídio Petrolino Werling de Oliveira,
Bangu 8. No local estão os presos com curso superior e homens que não pagaram
pensão alimentícia. O ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, encontra-se em Bangu
8 desde dezembro do ano passado, após ser preso na operação Calicute.
Antes de ocorrer a
transferência, os presos deverão fazer exame de corpo de delito no IML e devem
passar por uma triagem em outra unidade prisional.
Quem são os presos na operação
Aloysio Neves
Neves é um dos que
aparece na famosa foto de 2009 da viagem de Cabral a Paris, ao lado de Fernando
Cavendish, da construtora Delta, e do então secretário estadual de Saúde Sérgio
Côrtes. Presidente do TCE, ele foi preso com outros três amigos em 1983, sob a
acusação de tráfico de drogas.
Foram encontrados 200
gramas de cocaína em seu apartamento. Foi condenado em primeira instância mas
posteriormente foi absolvido, alegando ter sido vítima de um flagrante forjado.
Em 1990, serviu como assessor técnico de Sérgio Cabral. Quando o ex-governador
foi eleito presidente da Alerj, Neves assumiu sua chefia de gabinete, entre
1995 e 2002.
Presidente do TCE-RJ, Aloysio Neves
foi preso e levado para a sede da Polícia FederalEstefan Radovicz / Agência O Dia
Aloysio voltou a
ocupar a posição com a eleição de Jorge Picciani para a presidência e
permaneceu no cargo até 2010. Nesse meio-tempo, também ficou responsável pela
propaganda institucional e pela área de cultura da Alerj. Foi graças à
mobilização de Picciani com a base do PMDB que Aloysio foi eleito, com 54
votos, como conselheiro do TCE, em abril de 2010. Ele foi vice-presidente no
biênio 2015/2016 e eleito presidente em dezembro do ano passado.
Domingos Brazão
Domingos Brazão
O vice-presidente do
TCE foi deputado estadual de 1999 a 2015, e antes disso vereador, entre 1997 e
1999. Em 2006, ele foi investigado pelo Ministério Público Estadual por suposto
envolvimento com a ‘máfia dos combustíveis’, esquema de fraudes fiscais e
adulteração de produtos que chegou a movimentar R$ 10 bilhões por ano.
Na mesma época, a
Polícia Federal abriu um inquérito criminal contra o então parlamentar por
suspeitas de crimes de lavagem de dinheiro e corrupção. Brazão também chegou a
ser citado, em 2008, na CPI das Milícias da Alerj.
Domingos Brazão foi preso e levado
para a sede da PFEstefan Radovicz / Agência O Dia
Em julho de 2011, o
Tribunal Regional Eleitoral decidiu cassar o mandato do deputado por abuso de
poder econômico, captação ilícita de voto e conduta vedada a agente público. Em
outubro do mesmo ano, nova cassação: desta vez, por supostamente ter utilizado
um centro de ação social com finalidade eleitoreira.
Domingos Brazão
recorreu das decisões e conseguiu ser mantido no cargo até ser eleito
conselheiro do Tribunal de Contas do Estado em 2015. Ele conseguiu 61 votos do
total de 66 deputados.
José Gomes Graciosa
Graciosa é advogado e
foi prefeito de Valença, na região Sul do estado, de 1982 a 1988. Ele foi
eleito deputado estadual em 1990 e reeleito em 1994. Em 1997, ele foi alçado ao
TCE, graças ao apadrinhamento do então presidente da Alerj, Sérgio Cabral.
Graciosa foi presidente do tribunal de 2001 a 2006.
O conselheiro do TCE-RJ, José Gomes
Graciosa (à frente), também foi levado para a sede da PFEstefan Radovicz /
Agência O Dia
O conselheiro foi
investigado pela Polícia Federal pela Operação Pasárgada e, em 2011, ele e
outros dois conselheiros foram acusados pelo Ministério Público Federal de
receber R$ 130 mil para aprovar um contrato do Grupo SIM, uma empresa
investigada pela Polícia Federal em Minas Gerais, com a Prefeitura de
Carapebus, no Norte Fluminense. Graciosa foi asbolvido quando o caso chegou ao
Superior Tribunal de Justiça, por inconsistência das provas.
Marco Antônio Alencar
Filho do
ex-governador Marcello Alencar, Marco Antônio foi eleito deputado estadual em
1990 e reeleito em 1994. Ele já ocupou cargos públicos municipais e estaduais
como secretário-chefe do Gabinete Civil da Governadoria do Estado do Rio de
Janeiro.
Alencar foi nomeado conselheiro do TCE em 1997, quando o pai ainda ocupava o Governo, o que causou debates sobre o conflito ético. Mesmo assim, foi eleito com 86% dos votos. Entre 2001 e 2006, ele foi vice-presidente do tribunal. O conselheiro é cavaleiro do Jockey Club e dono do haras Manége Domar.
Alencar foi nomeado conselheiro do TCE em 1997, quando o pai ainda ocupava o Governo, o que causou debates sobre o conflito ético. Mesmo assim, foi eleito com 86% dos votos. Entre 2001 e 2006, ele foi vice-presidente do tribunal. O conselheiro é cavaleiro do Jockey Club e dono do haras Manége Domar.
José M. Nolasco
Nolasco presidiu a
Cedae de 1995 até 1998, ano em que foi eleito para o TCE. No tribunal, foi
presidente entre 2007 e 2010. Nolasco é suspeito de ter sido o recipiente de
propina de 1% sobre o valor da obra de reforma do Maracanã, exigida pelo
ex-secretário de Governo de Cabral, Wilson Carlos, a executivos da construtora
Andrade Gutierrez.
A revelação foi feita
pelo ex-executivo Clóvis Renato Primo, no âmbito da Operação Descontrole, braço
da Operação Lava Jato no Rio no ano passado. José Maurício Nolasco era relator
de 11 dos 22 processos que tratam da reforma do Maracanã no TCE. Ao todo, 21
processos ficaram parados.
Aluísio Gama
Aluísio Gama de Souza
dá o nome ao auditório de Tribunal de Contas do Estado, onde trabalhou de 1993
a 2015. Ele foi prefeito de Nova Iguaçu de 1989 a 1992.
Antes disso, foi deputado estadual por quatro mandatos consecutivos. Ele também foi Secretário de Desenvolvimento da Região Metropolitana e de Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro.
Antes disso, foi deputado estadual por quatro mandatos consecutivos. Ele também foi Secretário de Desenvolvimento da Região Metropolitana e de Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro.
Aluísio Gama foi
alçado a presidente do tribunal em 1997, cargo que exerceu até o ano 2000. De
2011 a 2014, ele ocupou a vice-presidência. Deixou o TCE em março de 2015,
quando completou a idade-limite para participar do órgão, de 70 anos — ele abriu
a vaga para Domingos Brazão.
Colaboraram Paloma Savedra e a estagiária
Alessandra Monnerat
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